sábado, 26 de fevereiro de 2011

Saudade de muitos meninos


Hoje, num encontro com amigos, me deparei a discutir sobre literatura. Boa literatura, diga-se de passagem.
E, nesse momento, devemos nos olvidar de alguns animais, dentre eles o coelho! Eta bichinho complicado na nossa literatura. Já vieram outros melhores, e nisso Lewis Caroll, embora britânico, não nos deixa mentir. Mas nosso coelho é de amargar! Soturnos Machados, adocicados Alencares, atentos Romanos, sagazes Pratas. Deixemos, pois, os Coelhos de lado, afinal distante estamos da Páscoa. Demais disso, os assédios às livrarias, conclamados por estrondosas campanhas de marketing já deram o que tinham que dar, deixando os leitores à míngua ... apenas com um texto medíocre nas mãos.
Mas voltando à conversa com os amigos – acabamos falando de uma obra sensacional: “Os Meninos da Rua Paulo”. Aos jovens, que não leram, e aos que depois de ler se esqueceram, conclamo a (re)visitar aquelas páginas tão palatáveis.
Uma história de puro e absoluto heroísmo. De garra, força, determinação e incansável perseguição dos seus objetivos.
A verdade que existem poucos livros tão belos e tristes como “Os Meninos da Rua Paulo”, escrito pelo jornalista húngaro Ferenc Molnár (1878-1952). A obra foi escrita, segundo pesquisas que fiz, em 1907, e foi lançada no Brasil somente em 1952, buscando alcançar o mercado infanto juvenil. Abrilhanta o contexto o fato de que a tradução foi realizada por ninguém menos do que Paulo Rónai (1907-1992).
O livro foi adaptado três vezes para o cinema (a melhor versão, dirigida pelo húngaro Zoltán Fábri, foi indicada para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1969) e inúmeras para o teatro. Os Meninos da Rua Paulo é um desses livros que, escritos para crianças e adolescentes, acabaram cativando ainda mais os adultos.
A explicação do fascínio exercido pela obra ao longo de mais de cem anos pode ser encontrada no prefácio de Rónai: “Os Meninos da Rua Paulo” é dessas leituras que nos acompanham pela vida afora, livro de aventuras que vale por um estudo de psicologia, livro de memórias em que não se percebe a presença do autor, livro de guerra que nos reconcilia com a humanidade”.
A história narra a disputa por duas “tribos” de crianças por um espaço – grund – um terreno baldio. Do inteligente e corajoso general João Boka ao pequeno e frágil soldado raso Nemecsek – meu herói absoluto –, passando pelo traidor Geréb e pelo chefe do grupo inimigo, o valentão Chico Áts, todos, sem exceção, constituem figuras fascinantes que sintetizam e retratam a essência do universo infantil. Capaz de mudar definitivamente a vida de uma pessoa, Os Meninos da Rua Paulo será sempre leitura obrigatória aos jovens de qualquer idade.
“A pál-utcai fiúk” – o nome da obra em seu idioma original (húngaro), nos deixa uma catarse na palma das mãos ao passar cada uma de suas páginas: a brincadeira de guerra das crianças nada mais reflete do que o conflito evidente que a história nos alcança a cada dia.
Aos amigos que compartilharam comigo, dentre eles o sábio (e sabido) Dr. Bernardo, obrigado por lembranças tão ingenuamente inesperadas, e de eloquaz vivência.
Que me desculpe a falta de complacência, mas lembrar de uma obra como Os Meninos da Rua Paulo, numa aprazível fazenda, em meio a copos de cerveja, pães de queijo, depois de uma chuva que encheu nossas narinas com o frescor da terra, é mesmo coisa de um sábio filósofo. Obrigado, Bernardo!

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